quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Deu-se o clique.
Ela apercebeu-se de que ele voltava a olhá-la de maneira diferente. Outra vez. 

Naquela noite, naquela festa estrondosa em que ela acordou no dia seguinte sem saber onde e como estava naquele sitio, deu por ele a olhá-la com o olhar de quem ama, de quem cuida. Ela reconheceu esse olhar, teve um dejá vu de todas as vezes em que ele a olhou assim.

-R? Que é que eu estou aqui a fazer? 
-Calma S, estás em minha casa. Ontem encontrei-te à procura de um táxi na rua. Não me pareces-te muito bem então trouxe-te comigo. 
- Não me lembro bem. Viemos a pé? Que dor de cabeça!
-Viemos, não te lembras de nada? 
-Não sei, não me consigo lembrar bem ... Preciso de saber o que se passou. 
-Deves ter bebido demais e agora não te lembras. Nota-se um bocado pelo cheiro a álcool que tens e pelo vomitado que deixas-te no meu hall de entrada. Já tens idade para ter juízo S.
-Sermão? A esta hora? 

S. levantou-se então da cama e quis sair antes de que mais uma discussão culminasse entre o ex-casal mas viu-se travada por R. que lhe tapava a porta do apartamento.

-Deixa-me ir embora. E obrigada por teres cuidado de mim ontem. Adeus. 

R. afastou-lhe o cabelo sujo da cara e num gesto instintivo beijou-a, deixando S. sem qualquer reacção possível. 

-Porque é que fizeste isso? -perguntou ela enquanto fitava o chão coberto com o seu vómito. 
-Ontem tu beijaste-me e hoje eu não te posso beijar?
-Eu?
-Na cabine telefónica. Puxaste-me para dentro e beijaste-me. Disseste que me amavas e que nunca me tinhas esquecido ! 
-Eu fiz isso?...
-Fizeste S. E dormiste agarrada a mim como dormíamos antes, beijaste-me, abraçaste-me ...
-Cala-te!- gritou.
 Não quero saber de mais nada. Não entres em detalhes por favor. Eu não fiz isso, eu não disse isso. Esquece tudo. Obrigada, mas esquece tudo ...

-És sempre a mesma S. Vais ser sempre a mesma ... 
-Tu sabes que eu te amo. Não sei esconde-lo. Mas da próxima vez que me vejas a cair numa rua qualquer, não me segures. Sabes bem que te vou dizer tudo o que sinto naquele momento mas no dia seguinte só te vou dar motivos para pensares que não sou mulher para ti.
Não é assim tão fácil amar-me. 



segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

São agora 5 da manhã.

Já dei tantas voltas na cama que os meus lençóis prendem-me os movimentos.
Não consigo dormir, onde estás?
Deitei-me há horas e nada de conseguir adormecer. Os meus olhos teimam em fechar mas a minha cabeça não me permite que adormeça.
Falta-me alguma coisa. Falta-me alguém e eu acho que és tu. Tu, que te foste embora há tanto tempo, tu que já partilhas-te imensas camas com outras pessoas.
Sinto falta do beijo de boa noite, do aconchego de ter aqui, ao meu lado. Gostava de te ter aqui comigo, tão abraçado a mim que eu tivesse de chegar ao ponto de te dizer para te afastares um pouco. Quero-te aqui a mexer-me no meu cabelo e a pedir para não adormecer já, para ficar acordada contigo.
Quero-te aqui de manhã, para te acordar com um beijo de bom dia e receber o maior dos teus abraços.
Quero-te ao almoço para te ouvir dizer o quanto eu falei enquanto dormia, o quanto eu me mexi durante toda a noite e quantas vezes te empurrei para fora da cama durante os sonhos. Quero-te ouvir dizer o quanto tiveste saudades minhas.
E quando quiseres... Aí podes ir. Vai, e quando sentires a minha falta podes voltar.Afinal eu estarei sempre aqui, no mesmo lugar, com os mesmos hábitos, com as mesmas saudades ...