quarta-feira, 27 de junho de 2012

Olfacto



Eram 03.30h. quando ela chegou a casa.
 Vinha bem, vinha bem-disposta. Fiquei feliz por vê-la daquela forma, gostei de a ver naquele momento, livre do fantasma que a persegue todos os dias. Acendeu um cigarro e estivemos a conversar. Contou-me a noite, contou-me o quanto sofreu pelo futebol, o tão bem que lhe soube aquela feijoada tão típica de cá, e como esteve bem na companhia dos amigos. Senti-a solta, senti-a descontraída e despreocupada como ela costumava ser. Não lhe toquei no assunto que a persegue, não quis avivar memórias. Senti que a minha amiga estava finalmente a fazer o caminho de volta para a pessoa que era !
...
Ela foi despir o vestido e os saltos que trazia . Vestiu uns calções e uma camisola, e voltou para ao pé
 de mim. Trazia o vestido consigo, sentou-se no sofá e inspirou fundo agarrada a ele.Porque é que não arrumaste o vestido Maria? Parou por momentos, perdida nos seus pensamentos riu-se e disse : bem sabes que quando compro algo novo não o largo! Mas o vestido não era novo, e eu bem sabia que a Maria odiava ter a roupa amarrotada. Insisti para ela o ir arrumar mas ela apertava-o com cada vez mais força. Olhou para mim- eu a ti não te consigo enganar pois não?
 O vestido tinha o cheiro dele, do fantasma que a persegue a cada momento. Ela inspirava, recordava tudo aquilo que aquele cheiro a lembrava. E então a máscara caiu. Abateu-se sobre ela de novo aquele aperto no peito. Descobri que um amigo meu tem um perfume igual ao dele e pus um pouco no meu vestido! E sorriu. Afinal enganei-me, esqueci -me de como ela é boa actriz e de como ela tem recaídas inexplicáveis como esta. E aí vi o sorriso, a saudade e as recordações que um simples perfume lhe trazia... 

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Obrigada meu querido.

Sentei-me em frente da televisão.
 Mudei quinhentas vezes de canal, desliguei e liguei, deitei-me no sofá, troquei de posição e finalmente acomodei-me. Aqui estou eu, o dia inteiro em pijama e de óculos. 
Recuso-me a pensar no que quer que seja. Tenho que me manter ocupada, de manter a minha cabeça ocupada para não pensar em ti.  Cansei-me da televisão, liguei o portátil e  estive deitada com ele á minha frente. E agora faço o quê?  O meu corpo precisava de outra coisa... Pensei em levantar-me e ir nadar ou ir correr. Mas não era isso, não era exercício o que precisava. Continuei deitada.
Infelizmente aquela procura, aquela vontade não passou até que eu percebi do que precisava - de um abraço.
Precisava de sentir o aconchego e o calor de um abraço. Precisei de mimo e de atenção naquele momento e vi-me sozinha na sala. 
Foi aí que tu me procuraste... Como se gritasses o meu nome, como se chamasses por mim. Tinha-te esquecido na cama, envolto pelos lençóis. Fui ao quarto, e vi-te lá exactamente onde te tinha deixado.
Tirei um cigarro do maço, praguejei por continuar com este vício mas tive tanta certeza.... Não é a mesma coisa, mas ajuda muito.

sábado, 16 de junho de 2012

Habitua-te.

Não te surpreendas quando um dia ao ela ouvir o teu nome não tenha nenhuma reacção. Não te surpreendas quando não vires aquele brilho nos olhos dela de cada vez que olha para ti, que te vê a sorrir. Não esperes também que ela note quando mudas de perfume, quando tens uma camisa nova ou quando trocas de penteado. Não esperes encontrá-la na rua e que ela baixe os olhos envergonhada e te diga "olá" ...porque não vai ser assim. Ela raramente vai notar se vos cruzares nalgum lado, tu sabes como ela é distraída,. Ela via-te a ti, procurava-te com todos os sentidos em qualquer lugar que fosse. Um dia, não te vai procurar mais. Vai-te encontrar casualmente e  se tu lhe falares, vai sorrir-te e dizer olá como diz a todas as outras pessoas . Isto um dia vai acontecer, e tu vais perceber o que se passou. Aí, vai-te custar vê-la de cabeça erguida, sei disso. Quando acontecer é apenas porque ela já deixou de ter pena de si mesma por te ter perdido, e percebeu que foste tu quem a perdeste. Mas tens tempo, continua feliz. Ela ainda não se apercebeu de nada.