Os meus olhos fechavam-se e o peso que caia sobre eles tornava-se insuportável. Acho até que adormeci por instantes mesmo antes do cão da vizinha me dar sinal a mim e a todo o bairro da tua chegada.
Shiiu, 'tá calado! disseste tu enquanto tentavas abrir o portão do jardim sem fazer o mínimo som.
E eu? Eu observava da janela da sala o mesmo ritual de sempre : pastilhas na boca, ajeitar o nó da gravata, arranjar o cabelo e apertar a camisa até ao ultimo botão. Estavas pronto a entrar em casa e a dizer mais uma vez: Querida ainda estás acordada? Tive uma noite cheia de reuniões, só consegui voltar agora. E eu iria dizer como sempre : Não te preocupes...Então, passava a noite a pensar na tua desculpa sem nexo até a minha cabeça não aguentar mais. Mas naquela noite foi diferente, naquela noite decidi que ia deixar de ser assim, ia gritar contigo, mandar-te embora e dizer-te que o cheiro a álcool, tabaco e mulheres não se disfarça com umas pastilhas! Mas tu entraste e disseste-me o mesmo de sempre e acabamos a noite a dormir juntos como das outras vezes. Espantosamente foi a primeira vez que não me fez confusão o cheiro, a mentira e mesmo depois de todos os planos para discutir contigo foi a única vez que dormi descansada. Penso que deixei de estranhar aquela tua atitude e conformei-me, porque primeiro estranha-se mas depois entranha-se.
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